A bailarina (II)

O sol volta sempre pro horizonte...

termina sempre assim...

o sol volta pro horizonte,

a água volta pra terra,

o beija-flor volta pra rosa,

o dia volta pra noite,

o espírito volta pro cosmo,

o sono volta pro sonho,

todos voltam pra alguém,

e eu volto pra solidão do meu quarto...

Alguma coisa tem que estar errada aqui...

Mas o que acontece é que eu volto,

sozinha, pra minha solidão e meu vazio,

enquanto todos voltam pra alguém...

Corro o dia todo, penso, canto,

ouço, faço, sigo meu caminho...

Que caminho?...

Eu sempre faço coisas

e elas sempre voltam pro nada

e eu volto pro meu eterno vazio...

feliz e triste,

sem motivo penso nas coisas.

Sem direito a ser cruel;

aí está a vida sendo cruel comigo...

mas, grande bobagem, a vida sou eu.

E nada do que eu desejo,

absolutamente nada,

poderia tornar-me menos vazia,

porque o sentido...

onde o sentido está?

Nem nos sóis nem nas ruas,

beijos, carreiras, bebidas

e danças...

No meio do infinito palco,

bailarina solitária, sou...