Foi sentar-se naquela pedra no topo do tempo.
Dali não arredava nem que fosse para nascer de novo,
Nem que fosse para ver outra vez tudo o que não viu
E viver e não saber, esquecer um pouco tudo que sentiu.
Num momento a vida inteira diante dos olhos,
Último por do sol avermelhando o desatento olhar.
E ficou ali enquanto durou a vontade de sonhar.
 
E, dizem, morreu ali de deslumbramento...
 
Ali, onde tudo era tão somente solidão e silêncio,
O último porto para perdidos pensamentos,
A última porta para mortos sentimentos,
Onde todos perdem todo o inútil conhecimento,
Onde todos pedem qualquer reconhecimento.
E ficou ali enquanto teve alheio consentimento.
 
E, crêem, morreu ali pleno de esquecimento...
 
E não sobrou nada, nem palavra ou história,
Nada que ficasse escrito n’alguma lembrança
A memória não inscrita das iludidas esperanças,
Nem a suspeita de uma presença, o pressentimento,
Nem a impressão de que um dia tivesse vivido,
Repartido esses ávidos olhares de eternidade.
E passou ali como se nunca tivesse vindo.
 
E, supõem, ficou ali só o seu alumbramento...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 01/09/2011
Reeditado em 19/05/2021
Código do texto: T3195250
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