O rio

O rio

Maria da Graça Almeida

Rola o rio adormecido e mudo,

em cochicho miúdo, absurdo!

Desliza em cochilos alados,

num leito molhado e cansado.

Rola o rio em embalo trôpego,

com sibilos roucos e sôfregos.

Verte um choro machucado,

benevolente ou irado.

E rola descendo a serra,

em desgraça ou benefício,

ora mata a sede da terra,

ora a afoga em desperdícios.

Incauto, ignora o rio:

se a terra assim o quisesse,

dele faria um só fio,

antes que a cheia viesse.

maria da graça almeida
Enviado por maria da graça almeida em 07/07/2005
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