“Ele não imagina o que eu guardei só pra ele”

No rádio alguma bossa toca

Em teu quarto, de certo alguém lhe toca

Discuto comigo mesmo

Não me basto dentro de mim

Preciso de ar, preciso de um copo cheio pra esvaziar

Quis sarna, estava bem como estava

Só. Mas bem, eu mais meu copo

Como temos a plena noção de que vamos morrer

Então entramos nessas viagens

Já que o fim e o sofrimento são certezas

Mas buscamos vencer o invencível

Como quem busca viver por 200 anos

Faz-nos bem essa ilusão da eternidade

Pinta de tons pastéis o absurdo que esta vida é

Me impedindo de lançar meu corpo contra um ônibus

Ou do 15° andar.

Tento crer nos finais de novela

Enquanto da janela só vejo crianças a trocar o corpo por cocaína

E meu copo se enche e se esvazia

Penso em um novo tema

Enquanto amasso e lanço o último rabisco no lixo

“Talvez esse até que estivesse bom”

A mente pondera

Enquanto o corpo inerte afunda no sofá

O copo novamente se enche e se esvazia

Esvazia-se feito a garrafa de Passaport

Feito meu peito, feito sua dignidade

Ou a força dos braços de nosso amigo

Só não se esvai esse ódio,

Mas quem sabe não o encontro na fila do banheiro

Ou em um próximo concerto.

“Ele não imagina o que eu guardei só pra ele”

Ago/ 11.