DOCE PERDIÇÃO
DOCE PERDIÇÃO
Moa-se a cana caiana
Movem-se as roldanas
O suco verde e gostoso
Escorre até o tacho de cobre
Mexe-se com jeito nobre
Para deleite de gente bacana
Faz-se assim a garapa
Que logo se cristaliza e não escapa
Vira doce de gosto forte
Duro que nem a morte
Faz-se a tal rapadura
Que no meio daquela quentura
Poucos entendem o porquê no norte
Não é doce e sim a sorte
De muita gente humilde
Que desse doce come ralado
Alimenta-se e ganha energia
Aqui no sul que maravilha
Chega-se ela em forma de bloco
Serve de doce e pra açúcar
Pra adoçar café amargo ou minguado
Mas o que mais doce não é se o seu ponto
De quentura que faz você em eu parecer
Minha doce menina da rapadura
Que desejo um dia provar assim pura
Pondo-te em minha boca molhada
Deixando você derreter tão açucarada
E por muito tempo sentir teu gosto tão bom
De esse nosso intenso viver corriqueiro
Quero dessas lembranças delicadas ser o carteiro
Eu nunca mais teu gosto em mim se perder
Pois você é meu doce e minha amada
Quero que seja dura, mas a mim ser a florada
Amoleça-me e faça-me criança
A brincar com teu doce em meu desejo
De ser também totalmente doce um dia
Eu um fio de rapadura e esperança...
As lembranças de infancia minhas e de minha amada Clara Luz e doce Clara