[Ainda no Trem]
Deixa o meu trem seguir... deixa!
Sei que esta imagem é triste,
e fala de coisas a ser esquecidas!
Mas, por enquanto, viaja comigo:
deixa o vento bater nas ervas-cidreiras
plantadas ao longo da linha,
junto ao enrocamento dos dormentes.
Deixa que eu, menino que não sai da janela,
possa fruir o suave aroma que vem das matas,
e deixa os meus olhos se perderem nas suaves ondulações verdes
que o vento do deslocamento do trem faz nas plantas.
E deixa também eu sentir o cheiro de coisa primitiva,
exalado pelas pedras escuras com manchas ocres,
aquecidas pelo sol que rebrilha nos trilhos...
Deixa o meu trem seguir...
Mesmo que não se saiba para onde...
Importa muito para onde a gente vai?
Importa tanto assim?
Se nem mesmo podemos descer em alguma estação...
[Eu não quero chorar]
______
Do meu livrinho "Cavalos da Noite", ilustrado por Paula Baggio