UM CANTOR DE NOITE

Tinha um amigo, que nos bares cantava

Ser lindo cantava letras que não entendia

Era poesia em sua voz a gente volitava

Era um relento ao vento dava vontade de encontrar até raiar o dia

Tocava nos bares de então

Belo cidadão negro na cor

Uma explosão na alma multicor

Amigo do fundo do coração

Seu nome Gil!!!

Numa destas noites

Em que a noite esquece o dia

A poesia se entristece e um dos poetas fugiu

Soube por outros na cidade nua

Que ele numa destas noites

Partira ao reagir a um assalto na rua

Calou-se a voz e a noite virara um pernoite

Apenas um pernoite...

Apenas um pernoite...

Tudo havia sumido, sua voz

Seu corpo, seu jeans surrado e seu violão nas costas

Como uma asa, perambulava de bar em bar tonto...

E cantava como uma cigarra noctivaga a sorrir

Que se agarra nas árvores,de sua voz um conto a parir

E canta até quase explodir...

Vi sair de mim este ser

Perdido na noite escura

Tantas vezes o vi cantar, a noite ele alvejava

E vinha à minha mesa, estender sua mão

Calejada pelo tempo e pelo sereno viajava...

Segue em paz amigo...

Tua voz ecoa, ainda nos meus ouvidos

A tua dor resplandece, em um sol vivo

Você nunca partiu...

Voce nunca partiu...

Apenas o tempo foi que sumiu!

Sua voz está em nós...

Seu improviso...

Seu riso triste...

Seu jeans!

Estamos aqui pra isso

Estamos sempre nos vigiando

Mas...Enfim, mas enfim !

Nos perdemos como camarões

Que dormem na praia, e a onda vai levando...

Enfim tudo passa

Tudo passa

Passa a dor desta traça

Que destrói, mas no peito

A saudade vive, e a tudo revira

Descansa em paz amigo...

Deste abrigo ninguém te tira!