Suicidado

Uma caravana de lágrimas desce

Uma a uma

Pelas minhas têmporas

E fazem poças nas cavidades

Das minhas orelhas.

Sabe tu, que me aconselha

O que é ter alma?

Sabe tu, que de mim desdenha

O que é senti-la toda na forma

De excruciante dor

Que não dói

E sim

Sufoca?

Já se pegou sozinho num cômodo frio e escuro

E sentiu a imensa e pesada carga de Vazio

Que preenche

Seus dias

Suas conquistas

Suas derrotas

Sua Vida, enfim;

Já?

Coletei com a ponta do dedo uma dessas lágrimas

E a depositei sobre uma balança

E a apatia

Não me deixou atinar com o fato

De ela pesar uma tonelada

De pesar.

Meu destino

Meus fracassos

Meus progressivos desentusiasmos

Todos dentro de uma gotinha salinizada

Posta de um lado da balança.

E do outro lado da balança

Sopesando de forma igualitária

Um pedaço de ferro apenas

Com uma única bala dentro

E um milhão de possibilidades

Depois.

Depois de um macio e libertador

Estampido

Ressoando por fração de segundos

Em uma dessas duas orelhas

Alagadas.

Alagadas por lágrimas que eu não pedir para ter

E que não cessam

Em escorrer.

24/08/2011 - 20h22m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 24/08/2011
Reeditado em 24/08/2011
Código do texto: T3180213
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