Sonho.

Sei que sou rico, embora contra o fato;

No fundo do meu prato mora a fome

Um rosto, mil retratos, muitos nomes

E a lágrima que doura sem contrato.

Sei que sou rico, embora insensato,

Descalço pés no asfalto que consome

E tantas preces no ato, sem que dome

Esta dor que supora se não trato.

Sem teto sob a lua deslocada

O destino no passo que componho

E sobre a face nua e lacerada

O risco que disfarço que suponho

Meus irmãos pelas ruas somam nada

Sou rico neste mundo porque sonho!