A CAMINHO DA FESTA
Caminhei por vários dias
Os mais longos dos caminhos
Corri trilhas pedregosas
Passei as noites sozinho
Nadei rios caudalosos
Subi e desci ladeiras
Escalei altas montanhas
Escorreguei nas barreiras
Tive mais dificuldade
Atravessando espinheiros
Pontiagudos, perfurantes
Mas sai quase inteiro
Comi quando encontrava
As migalhas pelo chão
Bebi gotas de orvalho
Perdi-me na imensidão
Mas de nada adiantou
Pois não cheguei a tempo:
A festa já acabou
Não encontrei meu alento
As roupas esfarrapadas
Sapatos rotos, com lama
E o cheiro que exalava
Não atrairia uma dama
Enxuguei a minha testa
Com dorso da mão direita
Abanei-me com o chapéu
Que tinha na mão esquerda
Prá que tanto sacrifício,
Que julguei realizar?
Estava tão confiante
Será que tive azar?
De longe só vislumbrei
Todos já se despedindo
Alguns em grupos, outros sós
Iam lá à frente saindo
Pelos caminhos da vida
Agora mais devagar
Já tinham o que queriam
Restava continuar
Nas lutas da vida terrena
Tem os fortes e têm os fracos
Tem aqueles que desistem
Tem os que lutam de fato
Em qual deles me enquadro
Não sei ainda discernir
Mas vivendo o dia a dia
Vou procurar descobrir
Muitas vezes as descobertas
Vem de modo inesperado
Outras vêm com muito esforço
Às espessas de cuidado...
Quem sabe da próxima vez...
Serei bem mais previdente,
Sairei de casa mais cedo
Nada deixarei pendente
Não precisarei estragar
As roupas e os sapatos
Pelos caminhos da vida
Serei prudente de fato
Chegarei à festa a tempo
Dela poder desfrutar
Para ter o que preciso
E só então... Continuar