POEMA: EXPRESSÃO ARTÍSTICA DA VIDA
A vida o poeta não interpreta: sente.
Seu grande desafio: codificar sensações.
Às vezes, se perde em meio às emoções,
Então, com a melhor das intenções: mente,
Ou finge, como disse o “poeta dos heterônimos.”1
Às vezes, vive o dilema de não saber se em seus poemas
Estão seus amores e suas dores ou de outro alguém.
Mas o poeta sente as dores e os amores do Mundo,
Então, que mal tem se finge sentir as dores de outrem?
Mas o poeta não fala só das dependências do coração,
Fala do estômago e sua dependência ao “arroz e feijão”.
Fala de religião, de problemas sociais, de idealismos;
Um poema pode ser o retrato da vida e seus mecanismos.
Um poema há de ser lido com mente e coração abertos;
Das amarras da língua, do preconceito, da interpretação
De sentido já feito, por isso, estreito, inteiramente liberto.
Para entender as antíteses e os paradoxos da dor e do amor,
Por exemplo, às vezes, há de calar a razão e falar o coração:
“Amor é fogo que arde sem se ver/É dor que desatina sem doer."
-Minhas deferências a ti “maior poeta do classicismo português”2
Desculpe este poeta menor que contigo só tem a aprender;
Mas, com uma boa exemplificação, basta falar uma vez.
O poema é uma forma artística de se conhecer a realidade.
Engano pensar poema como coisa de alienados da sociedade;
Também interessa ao estudioso, a quem ama o conhecimento,
E que, no exercício do intelecto, encontra contentamento.
1. Fernando Pessoa
2. Luís Vaz de Camões