EU ME RENDO
Apesar de presa nesta dura almofada
do sentimento vivo, magoado
por tantas alfinetadas,
rendo-me...
À dança frenética dos bilros
e suas frias flores em mim desenhadas,
rendo-me...
A mornidão da chuva
que inclemente vem e turva
a minha vista cansada,
rendo-me...
A estranha trama que nalguma
dimensão foi pra mim programada;
Às filigranas finas que, do meu fio tosco,
são por Tuas mãos bordadas,
rendo-me...
ao raio que pela janela soleia
generoso a espantar sombras dest’alma
de longe errante ao longo das estradas!
E assim tecidas ponto por ponto,
rendeira e renda ao ritmo da repetida batucada,
rendem-se...
apesar da garganta ainda pouco adestrada quase não cantar,
só resmungar antiga cantiga de roda da vida
há muito, muito inventada!
Recife-25/05/2011