A Dor que Sinto
A dor que sinto não atinge um órgão específico
Antes atinge a todos ao mesmo tempo
Às vezes é uma dor causada por feridas passadas
Outras vezes essa dor não tem causa aparente
Outras vezes ainda, tem causas ilusórias, mas dói insuportavelmente
Tento encontrar remédios para aplacar esta dor
Uma boa conversa causa alívio momentâneo
Algumas doses de cerveja a torna mais forte no dia seguinte
Ler provoca um conforto rápido
Rezar não consigo
O sexo alivia toda a tensão e cansaço
Mas é impotente contra essa dor que sinto
Escrever uma poesia é que causa um alivio mais duradouro
Mas a fonte deste remédio não é profunda e a dor volta
Seus sintomas são tão diversos que nem sei mais o que é normal
Sinto uma melancolia profunda
Um desamor absurdo, letargia completa
Timidez sem parâmetros, neurose avassaladora
Ódio incomparável, auto-desprezo incomum
E o pior de todos os sintomas: a loucura
Que me faz pensar que posso transformar todo esse desatino eu poesia.
Não sei se há cura para esta dor descabida, mas se ela existe esta entre
Viver de amor, doses intermináveis de carinhos e afagos
Abraços fraternos, alimentar a alma com bons presságios
Dizer e ouvir “eu te amo” pelo menos três vezes ao dia
Beber na melhor fonte da poesia no estilo Neruda e Pessoa
Devorar avidamente a essência da melhor prosa no estilo Machado e Saramago
E por fim, repousar numa rede à sombra de uma mangueira nos braços da pessoa amada.