REALIDADE DA VIDA
Perdi completamente o juízo, desvairado
fiquei ao tomar conhecimento da sua intenção
de abandonar-me. Concretizado, airado,
passei a beber, beber por compulsão.
O boteco, para mim, era um hospital,
onde me internei, não para me curar,
mas para tentar esquecer o grande mal,
que não tive capacidade para aturar.
Em poucos meses me transformei num farrapo
humano, doente, sem perspectiva, desmoralizado,
estava sempre quase desnudo, a roupa era um trapo,
meu estado normal, portanto, era alcoolizado.
Não tinha mais noção do certo e do errado,
mas tinha consciência de que o torpor etílico
de que era vítima foi, com certeza, emanado
da atitude da traidora do seu amor leal, lírico.
Outra coisa que, independente do meu estado,
não me saía da cabeça, era a possibilidade
de, um dia, minha amada, recordando o passado,
voltar humilhada, arrependida e pedir piedade.
Em estado de coma, internado num hospital,
ao despertar quase fui vítima de recidiva,
pois minha amada me acariciava como era habitual
no passado e me disse de forma incisiva:
-- Voltei e é para ficar. Não o traí nunca, jamais.
Minha atitude foi para saber se o amava, de fato.
Agora tenho consciência de que atitudes que tais
Não são necessárias. Faltou prudência, tato.
Vamos reconstruir o lar, razão de nossa vida,
pedindo, com fervor, a Deus que nos proteja.
Você está mal porque buscou lenitivo na bebida,
eu, ao contrário, estou bem, porque procurei uma Igreja.
No dia da alta médica saimos felizes, abraçados.
Como dois pombinhos, traçando metas para o futuro,
conseguimos entender que as vidas de dois desgraçados,
podem ser refeitas, esquecidos os momentos de apuro.