O CÍCLOPE
No meio da testa o terceiro olho reclama
Há uma chama que se nega a apagar,
São as relíquias do remoto velho mundo
São as lembranças que retornam devagar
Ninguém duvida que sou viva e verdadeira
Mas algo morto permanece bem aqui
Aspiro o cheiro da carne apodrecida
Sei que é tarde e preciso enfim partir
Não há quem possa suportar toda história
Poucos conhecem a verdadeira razão
De estarmos todos aqui, no mesmo barco
Compartilhando desta tola ilusão
Fecho meus olhos, mas o cíclope me vigia,
Não renuncia ao passado relembrar
Levanto e fujo, mas a forte mão do monstro
Tolhe-me a passagem me fazendo retornar
Para abrir meu cego olho apagado
Para olhar para meu passado impuro
Para mostrar que estará sempre do meu lado
Mantendo vivo meu passado e meu futuro.