[Ousadia]
[Esses teus oblíquos olhares...]
Ah... você, que eu tanto desejo,
mas ainda não posso tocar! Cruel,
negas aos meus lábios a veludez de tua pele,
vedas-me o fetiche de beijar-te os pés!
Diz-me a timidez que eu desista,
que é totalmente impossível,
que já tem dono o teu olhar,
que não és para o meu bico;
que estás fora do meu alcance,
que não desejas mudar de mão.
Porém, ofídica, a minha intuição ousa:
nada disso conta, nada disso importa!
Não pode a razão impedir que eu faça
o meu investimento, arme o jogo,
ponha as minhas fichas na mesa,
e vire a sorte a meu favor!
Almejo viver a impossibilidade:
o muito difícil, o quase inacessível,
também pode ser meu; por que não?!
você ainda há de amanhecer comigo!
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[Penas do Desterro, 26 de maio de 2002]