CAMINHADA...
Um pouco de mim
deixei pelos caminhos que andei:
sonhos, desgostos, desejos e suor.
Durava uma eternidade
aquelas noites de frio intenso.
Eternizaram em mim
as feridas daquele tempo.
É isto esta casca dura
que trago sob minhas vestes.
Estas rugas nas minhas faces
não são de agora não.
Surgiram da poeira dos dias
que passei solto pelas estradas.
Estes caminhos que percorri
sorveram metade da brandura
que havia no meu olhar de homem.
A outra metade trago oculta
até de mim mesmo...
Plantei na poeira dos caminhos
a planta do meu pé descalço.
Plantaram em mim as dores
de João, Antônio, Manoel e José...
Carrego sobre os lombos as dores do mundo.
No barulho angustiante do silêncio,
o que me acalmava era
sentir o vento madrugador
acarinhando o meu rosto.
Na fé do caminhante eram carícias
de Deus num ser solitário e padecedor.
Eu que pensava que ficava pouco a
pouco por naqueles caminhos...
Somente agora percebo que foram
eles que foram ficando em mim.
Cada curva, cada monte, cada chuva
alongada nas noites frias,
lavava meus defeitos e
deixava-me casto de novo.
Sobrevivi às tempestades
e a dureza dos caminhos;
as partes que perdi, de
fato não me pertenciam.
As marcas do tempo
é que me deixaram assim:
de semblante triste e meio rude
ou de semblante rude e meio triste,
não sei bem ao certo.