Chuva de verão

As pestes. Lamentei as pestes.

A estéril procura de Deus.

A fome. A miséria e a fome.

As guerras. Lamentei as guerras.

O cerimonial da vida.

Todos os erros.

Lamentei a mentira e o mal, a dúvida.

Os poemas e os cantos.

O silêncio, lamentei.

E também a luxúria. E o crime.

Lamentou o pensamento. E até a procura, por vã que seja, tão estéril.

O vento.

Ele lamentou a noite.

A morte.

Os cães.

A infância, ele lamentou, muito, muito.

O amor, ele lamentou.

O amor ele o lamentou para além de sua vida, para além de suas forças.

Os céus tempestuosos, ele lamentou.

A chuva de verão.

A infância.

E depois, um dia, sentiu o ardente desejo de viver uma vida de pedra.

De morte e de pedra.

Uma vez, ele não lamentou.

Não lamentou mais nada.

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(Poema recitado por Ernesto em "Chuva de Verão", Marguerite Duras)

WsCaldas
Enviado por WsCaldas em 11/08/2011
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