O amor que ninguem acredita

O amor que ninguem acredita

A mesma rotina de sempre.

O marido chega em casa, bêbado, cansado, mijado e com um pacotinho de carne, de segunda, sujo de terra por ter caído da bicicleta.

A esposa nem mais o espera e isso, via de regra, causa-lhe grande ira.

Reclama dizendo que a comida é uma lavagem e, fria, nem cachorro come.

A mulher finge que está dormindo e, passiva, aguarda o que está por vir.

O marido então, deita-se ao seu lado sem tomar banho e aquele hálito horrível parece inebriá-la. Depois ele começa a passear com suas mãos pelas coxas e regiões íntimas da mulher que ainda finge que está dormindo. Então, babando e com os olhos esbugalhados ele sobe na esposa e, tentando abrir a braguilha da calça, beija-a deixando escorrer vestígios da cana pelo canto da boca da esposa. Ele, com o dedo sujo ainda empurra para a boca da mulher a baba que tenta fugir para o pescoço. Pouco depois ele dorme largado e ronca como um trator. A esposa se levanta bem devagar e vai ao banheiro tomar um novo banho e escovar novamente os dentes. No dia seguinte a história se repete e, assim é ano a ano.

Certa noite o marido não chegou em casa. A esposa então, levantou, vestiu-se e saiu à procura do marido que por certo deveria estar caído em alguma sarjeta.

Não tardou para ela encontra-lo. O homem estava deitado de bruços dentro de uma valeta e com uma água fétida a banhar seu peito. A bicicleta estava a poucos metros dali quebrada e semi-enterrada no barro. A esposa então, tomou-o nos braços e, com muito custo retirou-o dali. Ele estava muito bêbado e somente balbuciava incapaz de ficar em pé sem ajuda.

Já em casa, a mulher deu-lhe um banho, uma xícara de café forte sem açúcar e o colocou para dormir. Logo que o dia amanheceu o homem acordou furioso, pois, havia perdido a hora de ir trabalhar. Culpou a esposa pelo acontecido e esbofeteou-a no rosto.

Ela não revidou àquela violência sofrida. O que fez foi se dirigir a um telefone público para ligar na firma onde o marido trabalhava. Meia hora depois do telefonema um automóvel estaciona em frente a sua casa. Vieram buscar seu marido para trabalhar, pois, aceitaram a justificativa dada por ela. A noite chega e ela já está em seu quarto, pronta para dormir.

Novamente a demora do marido para chegar. Ela então deduz o que poderia ter acontecido.

Ela estava para se levantar, quando alguém bate a sua porta.

Ela estranha, pois, seu marido certamente não faria isso, ainda mais estando bêbado.

Por fim, resolve atender a porta esperando encontrar lá um homem em estado lastimável.

A porta é aberta e do lado de fora um homem extremamente bem vestido, barbeado e com um buquê de lindas rosas vermelhas a interpelou: - Hoje eu compreendi o tesouro que eu tenho em casa, me perdoe meu amor pelo muito que eu te fiz sofrer. – A esposa mal conseguia reter as lágrimas e o esposo prosseguiu: - Todo o mau que a cachaça me fazia, era você quem desfazia e, agora, ou eu vinha aqui te pedir perdão ou então, eu me matava de vergonha. Eu sei que você tem todo o direito de me odiar, de me mandar embora...

A esposa então o interrompeu e disse-lhe que a cachaça para ele foi doce como um mel, mas o seu amor era algo que veio do céu. O homem pôs-se a chorar diante da esposa e aquelas rosas vermelhas foram a única testemunha das palavras que vieram depois.

Rubens poeta
Enviado por Rubens poeta em 11/08/2011
Código do texto: T3153605
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