Em nome dos pais

Pai, seu dia esta chegando e, mais uma vez, eu não sei o que te dizer.

Eu, na verdade, queria muito te dar um beijo, um abraço apertado, mas, eu não consigo.

Eu também queria que você soubesse que eu, mesmo sendo assim meio desligado, eu quero dizer que tem umas paradas suas em que eu me ligo. Tem aquele negócio de você sair de madrugada na maior chuva e, agora eu entendo que você fazia aquilo para que nada faltasse a mim e a meus irmãos. Tem também aquele lance da graninha que você sempre tem no bolso e, agora eu sei que meus finais de semana eram embalados pelo seu suor, pela sua dor, porque várias vezes eu o vi com as mãos no estômago tentando enganar a penúria. Eu me lembro dos micos que você pagou por minha causa, me lembro também das furadas em que eu me meti e, quando eu olhava pro lado, quem estava lá? Você sempre foi uma presença certa nas minhas horas erradas.

Se hoje eu choro é porque você me ensinou a não ter medo de chorar. Contudo, há um choro que me dilacera a alma. A lembrança do dia em que eu te reneguei perante meus amigos. Você estava simplório demais, parecia um ser sem eira nem beira e, eu não queria que meus amigos soubessem que você era meu pai. Pai me perdoa... Eu não sabia de nada, na hora eu me achava o tal, mas, na verdade o tal sempre foi você. Você percebeu meu gesto insano e se afastou. Eu fiquei ali com meus amigos. Pai foi nesse dia que eu descobri que o meu melhor amigo, na verdade era você. Eu queria poder dizer-lhe tantas coisas, mas eu prefiro esperar para poder ouvir. Ouvir o que meu filho terá para me dizer daqui a alguns anos, pois, nesse momento sou o espelho de seu neto que terá de mim tudo aquilo que me ensinaste. Muito obrigado meu amigo, que de tão verdadeiro, Deus o fez meu pai.