O AMOR SEMPRE ESPERA
Trago-te de longe
Longe é o nosso planeta
Passamos uma vida inteira
Tentando nele nos esconder
Mais não podemos nos esconder de nós mesmos
Longe é o lugar onde sempre nos encontramos
E é para lá que sempre vamos chegar
É onde estou te esperando
Onde o nunca, nunca existiu!
Vem logo minha amada vestida de azul anil
Trazendo pedaços de estrelas que
Colhestes no céu...
Não quero ser incompreendido
Como Eurípedes e seus dramas
Buscar no passado o miolo do presente
Quero o encontro do corpo
Deveras sentir o calor que deveras se sente
No abraço encorpado da faminta serpente
Vem logo e está tarde meu corpo arde de febre
Ele arde sem fazer alarde
Por esta paixão desvairada
Arraigada no teu ventre minha amada
Quero tua mão amalgamada
Entrelaçada nas minhas
Como duas pombinhas no telhado se aninham encurvadas
Quero tua alucinação
A temperatura sobe como no inferno de Dante
Deliro murmurante em mil rodas gigantes
Os instantes transformam-se em purgatórios
Esperar-te é como escutar no oratório
Um bolero de Ravel
Ao por do sol olhando para um céu sem fim
Meu coração está inseguro
Por um segundo a menos palpita
Se agita não te vê chegando por cima do muro
Da mesma terra que Deus fez o ignorante
Também saiu o mais sábio vagante
Já me fizestes tantas juras
Quero colher desta ventura
Embriagar-me deste idílio
No cálice de tua boca de mel
Passear pelos teus olhos
E voar pela negritude dos cílios teus
E neles me perder para sempre
Sem ter que dizer adeus...