O POETA
Sou ave brejeira que se opõe ao tempo
Lânguida noite quente e seresteira
Cântico ungido de rima festeira
Da alma invencível o rebento
Sou um rio longínquo e fecundo
Berço dos sonhos secretos
Divindade, humano e objeto
De abstrato clareio o banal e o profundo
Sou o silencioso e explicito riso
O grito na dor dos destinos
Um voraz prazer clandestino
De um filho que clama por exilo
Sou o olhar infinito e a porta aberta
A voz precisa na palavra torta
A idéia perfeita que a mente aborta
Uma brisa de mar, um sereno lunar, o poeta.