A lua do aparador
Desejo de sol que se amofina
À noite que em si declina
Encosto
Visagem
Em teu lábio sigiloso
Desfia meia verdade
Sempre à meia luz
Teço uma hora vaga
Dispersa
Que arredia e embaraçosa
Insiste na proeza
do fingimento
Prender o tempo
no meio de teu desejo
cristalizado
Onde adormeço
Entre lágrimas cansadas
E soluços desconfiados
Surtados pelas dores que nunca confesso
Estou só em meu pesadelo
desengonçado
Bato pernas
em tempestades de vultos
Prazeres em conflitos avulsos
Nunca acerto em cheio
Estou ao meio
Em história sem começo
O brilho fecunda minha dor
Inacabada
O brilho cega
Minha imagem atravancada
Cadeado enferrujado
que na tentativa do polimento
Ouço e fujo
Penso ser tua voz
Um chamado
Estado deplorável da minha alma mendiga
E esfarrapada
Mudastes os móveis
Mudastes os lugares
Mudastes os sentidos
Sentimentos em cabides
E o sol antigo
rosa perolado
que postei em tua
presença silenciosa
ficou amargo
Um gosto de escuridão
Possuiu-me num repente
Minha palavra
Antes fresca
Agora jaz perturbada
E mofada....
Onde luto
na madrugada
Permanecer despida
Onde nunca
Nem pela escandalosa conduta
Ou pelo céu que a tudo espia
Sou despedida...