Bem, é uma historinha...
Diz a lenda que o papel tão cansado,
Tão amuado & triste de ser um papel,
Simples & branco, enrugado, sem dobras,
Nos escaninhos, armários & outros quetais,
Chorava copiosamente & nem a presença
De tantos outros papéis na mesma situação
Atenuava o seu imenso sofrimento,
Tantas lágrimas, só fazia enrugar mais & mais,
Com mil demônios, os outros papéis só reclamavam,
Por mais que pedissem, o papel chorão suava,
Enrugava, além de umedecer os demais,
A ponto de ser expulso, vagar solitário,
Em outro canto escuro & embolorado,
Até que um dia, uma caixa branca chegou,
Estava meio rasgada, um tanto amassada,
Era pequena, bem simples & também triste,
Muito tempo passaram ali quase próximos,
Separados apenas por um velho par de tênis,
Ficaram ali tanto tempo, tempo demais,
Escutavam ao longe a folia dos outros,
Imaginando tudo de bom que faziam,
Mal sabendo o que lá acontecia, nada,
O tempo passado num grande silêncio,
Alguns murmúrios, o ar um tanto úmido,
Até que nenhum movimento fosse mais percebido,
Quando tudo levava crer ao esquecimento,
O armário é novamente aberto, quanta luz,
O par de tênis é lançado direto ao cesto,
Temor idêntico se abate por igual destino,
Papel & caixa são levados para a mesa,
Um pingente dentro da caixa, o papel, cola,
Duas etiquetas, mais um pedaço de durex,
Outro cômodo, uma pilha de caixas,
Risos & estouros, correrias, gritarias,
Um sujeito estranho & velho chama a todos,
Tudo é distribuído, menos a caixinha...
Toca a campainha, mais duas pessoas,
Outras caixas chegam, são distribuídas,
A caixinha observa as outras serem dilaceradas,
O velho homem por fim, pega-a, sobe as escadas,
O quarto com pouca luz, a caixinha é guardada!
Ela espera o dia seguinte, a menina finalmente acorda,
O velho homem abre com cuidado, mostra o pingente,
Nada é rasgado, nem amassado, tudo será presente!
Uma lágrima de alegria finalmente corre a face,
Todos os dias uma esperança renasce!
Peixão89