DONA’ANA.
DONA’ANA
Guel Brasil
Dona’ana negrinha miúda,
Com um coração de gigante
Que mal cabia em seu peito;
Mãe, avó, bisavó, parteira
E foi negra parideira,
Desassistida em seu leito.
Com alforria de nascença,
Pela lei do ventre livre
Maldizia a escravidão;
Era de pouca estatura
Mas de uma formosura,
Que estonteava patrão.
Negrinha de seios fartos,
Mãe de leite da senzala
Era orgulho de sinhá;
Seu leite era disputado
E até filhos bastardos,
Vinham nela se fartar.
Dos quinze filhos que teve
Pelas senzalas da vida,
Apenas um conheceu;
Os outros foram tirados
Noutras senzalas criados,
Para o desalento seu.
Foi a negra matriarca
Do quilombo Suçuarana,
Que tanto orgulho lhe deu;
Cinco gerações passaram
Doces lembranças ficaram,
Quando Dona'Ana morreu.