Morre, cabra da peste

Oh! demônio da noite!

que de sêco me faz morto

que me traz tanto desgosto

e quer minha vida infiltrar

Com você não consigo

a liberdade verdadeira,

o grão verde que cheira

as manhãs e meu andar

Juro pelo senhor

Pelo menino salvador

pelas lágrimas de Maria

que não canso de tentar

O rio que me esconde

Os dias de sol deitado

O vôo rei da aurora

E o rito dos amantes

O pão que me alimenta

Os orvalhos e as tormentas

O passo firme cimento

Que me segura junto ao vento...

Morre! Desgraçado

Demônio sem vida própria

Se aproxima desse pobre

Pra querer se alforriar..

A vida é eterna

Mas junto dela, sua gleba

A morte triste de Ismalia

E o trevo triste das velas.

Já viajei pra’s estrelas

Pranto d'agua e degredo

Precipício e flagelo

os enganos das sereias

Morre! miserável

Cão preto do inferno

Jorra o tempo no martelo

que eu quero experimentar

Já conheço os seus olhos

Seu beijo esvaziado

As facas em ponta morte

de corte longo e alado.

Morre miserável,

Feiura do agreste

Sou cabra da peste

Não posso tolerar

Essa sua empresa negra

De estradas belicosos

Que não ver as belas rosas

Que está no seu voar..

Eu sou muito jovem

tenho a flor da primavera

Os beijos de Gabriela

e uma rede pra deitar

Então presta atenção

Abra logo seus ouvidos

Ouça o sino destemido

Que eu vou te tocar

Já pisei em monte insano

Já fui até mucamo

Já fui peça de escambo

Um escravo sem nome..

Assim, por gentileza

Tenha um pouco beleza

Volte logo por inferno

Que lá é seu lugar...

Tenho o sol que me banha

A rua que me acompanha

Os beijos de meus amigos

E minha cidade Potirágua

Morre! filho da puta

desgraçado do capeta

Não conhece os segredos

Dessa vida e quer tirar

Precisa é aprender

um coração amoroso

que saiba penetrar

As profundezas dos loucos

O azul do céu caído

Que reflete um mundo ambíguo

Que tem soro e até perigo

Mas é lindo avistar

as praças banhos mornos

as noite de estrelas vivas

auroras mornas tristes

e o amor que habita poucos

morre filho da peste

secura do agreste

dejeto de casa velha

habitante do degredo

Porque não abre olho

que se esconde em ferrolhos

e veja o mundo novo

e beleza e o cantar

as cigarras amorenadas

que cantam na escola

as andorinhas lá de fora

que vem aqui deitar

que enche de estrelas

o verde das cajazeiras

que quando não dá cria

abre as folhas a abraçar

E veja as meninas

tão lindas bem vestidas

que nos matines da tarde

desse a rua pra dancar

buscando uns olhares

mesmos aqueles maldades

que irá em condimento

a sua vida temperar

Olha pra’s estrelas

a lua, aurora, o tempo lento

esse tom que assombra o vento

essas veias do firmamento

Que dá gosto ao compasso

Faz do tempo um abraço