Apelo
Esta deixo para quem ler,
se o caderno não se perder,
seja amigo, filho, neto,
ou quem sabe até bisneto,
aqui vai um segredo,
todo seu,
não tenha medo,
fui eu quem sofreu,
digo que a vida,
rima velha,
é bandida,
há de te machucar,
e de mim,
não ouse duvidar,
e não importa quem,
há de te trocar,
por mero vintém,
se vier a lhe calhar.
Então peço,
em segredo,
depois me despeço,
sem medo,
não deixe que a mazela,
não importando,
se veio dele ou dela,
vá te magoando,
mantenha a bondade,
que é sua,
foda-se a verdade,
do outro lado da rua,
se fede o mundo,
fede o outro,
lugar moribundo,
deixa pra lá,
o que importa,
está cá,
é teu peito,
teu desejo,
mostra à ele respeito,
cuida de quem gosta,
e muito mais,
de quem desgosta,
faz você, que lê,
pois já não posso,
praquele que não vê,
um bem sem estardalhaço,
faz algo verdadeiro,
pra alguém que viva,
neste mundo derradeiro.
E se fizer,
filho, neto, amigo,
e a tristeza vier,
estarei contigo,
mesmo morto,
passado,
defunto,
enterrado,
ao seu lado ficarei,
de orgulho inflamado,
pois sempre saberei,
que foi de bom grado,
que algo fez,
ao menos uma vez,
que dum tristonho,
criou risonho,
então imploro,
vá e algo faça,
por mais que seja irrisório,
pois o pouco,
que consiga mudar,
por mais que pareça louco,
irá importar.
Por aqui,
pouco tempo tenho,
então peço à ti,
que tenha empenho,
e por pior que seja,
cuida de qualquer coisa,
mesmo de quem mal lhe deseja.
E agora vou,
esperando que escutou,
um pouco do que eu disse,
antes que a morte me impedisse.