Avenida da vida
Na avenida passam carros e pessoas apressadas,
vitrines onde poucos têm tempo de parar,
olhares que se cruzam e se dispersam no desencontro,
histórias tão únicas e tão anônimas,
vontades de ser que permancem aprisionadas em cada um,
até que o louco vai ao coreto gritar e escandaliza,
porque quebra a normalidade e tira as pessoas da mesmice,
incomoda e fere os ouvidos de quem preferiu ensurdecer o espírito...
Na avenida um corre corre quando o sinal abre para a multidão,
esbarrões inevitáveis, mas sem contato humano,
pedidos de desculpa travados na garganta,
celulares tocando de minuto em minuto,
cafés expressos consumidos na velocidade do andar,
rostos que logo são substituídos por outros como outdoors eletrônicos,
até que o clown faz mímica seguindo o executivo,
arranca risada daqueles que outrora estavam preocupados com a cotação da bolsa,
mas é tão efêmero que logo importam mais as aplicações do dia em CDB,
incomoda quem há muito cegou-se para a luz dos sentimentos duradouros...
Na avenida o outro lado é apenas o lado no qual você não está,
a avenida é a vida de todos nós, todos transeuntes desse ir e vir,
a filmagem do documentário mostra em câmera lenta aquilo que o olhar não apreende,
a moça que esconde as lágrimas por trás dos óculos escuros na segunda-feira,
o rapaz que sorri para a menina que olha as horas no relógio de pulso,
o velho que toca sax na escadaria do metrô do Largo da Carioca,
e cada moeda que lhe é lançada rodopia no ar, brilhando ao reflexo dos raios de sol,
na escada rolante o casal se beija apaixonado, esquecendo o tempo,
enquanto a mulher de capa cinza segura o guarda-sol que teima em voar na ventania...
Na avenida estamos todos, a avenida somos todos nós...