Tarde de sábado
Tarde de sábado, dois casais sentados em bancos plásticos
Sobre a mesa num caixote improvisada
Latas de cerveja, carne, pimenta, salada
Tudo sujo, as moscas ao redor
Todos felizes buscavam o melhor
A barriga pra fora da bermuda
Um boné, uma camisa regata
Sandálias de dedo encardidas
Tomavam a milésima pedida
Eles conversando, cada um ao outro se mostrando
Puxavam dos bolsos as moedas reais
Um carrão sobre a calçada e quem se importa com o guarda
A mala do veículo alevantada; piscavam os sinais
O som mais sacudido das baladas
Coisa sem qualidade, um barulho ensurdecedor
As duas em êxtase sorriam _ os dentes todos à mostra
Shortinho vagabundo, blusinha decotada
Os peitos se salientando, melhor que aquilo, nada
O carro com as quatro portas abertas parecia convidar
Depois daqui, vamos à praia continuar
A farra na noite se prolonga e o cd brega estragado
Repete a música sem cessar
Os dois tombando de bêbados
As duas atiçadas não mais podiam esperar
O banquete antevendo
Cruzavam as pernas impacientemente para lá e para cá
O pilequinho já estava pra lá de brabo
Mas não queriam parar
Vamos para o pagode, disse a mais peituda
Vamos arrepiar, foi o que disse a coxuda
Os dois, já fora de si, se abraçavam, quase a se beijar
Gritavam gol do Flamengo, vamos bebemorar
Desce mais uma latinha, vamos entornar
As duas já fervilhando, ora prendiam, ora soltavam os cabelos
A cara alegre que, no começo da tarde tinham, virou cara de pesadelo
Eles bebendo e bebendo, viravam o placar
Veio uma senhora e disse: minhas filhas, vão embora descansar
Que estes dois estão prontos
Não conseguirão levantar
Era a proprietária do bar
A lei seca não funciona, eles podem se acidentar
As duas, já transtornadas, quebraram o cd brega
Pegaram a chave do carro e fugiram com o primeiro do lugar
E aqueles dois marmanjos amanheceram
Abraçados junto ao mar