SORRISO
Dias aparece, noutros some
Gargalha sem aviso
Conversa com o vento
Nome? Zé com Fome?
Chamavam de Sorriso
Não tem documento
Calça rota de brim
Camiseta surrada
Ultraje pela rua
Vida chegando ao fim
Pedaço de nada
Verdade nua e crua
Aceitaria do Céu
Uma fatia de pão
No balcão da esquina
Da miséria um réu
Sem ter solução
Sem luz que ilumina
Sem eira, nem beira,
Não fede, nem cheira,
Não merece atenção
Se jogam trocado
Agradece calado
Um aceno de mão
Mão puxa menino
Alguém faz bico
Outro olha de lado
Sem ter destino
Que é coisa de rico
Segue parado
Dia a dia, nessa esteira
Espera o albergue
Dar a hora de abrir
Cena corriqueira
E o mundo prossegue
Vai deitar e dormir
Vida traiçoeira
Nem sei como consegue
Ainda olhar e sorrir...