Ar Cênico...

Eu

Sensações de arrependimento

parecem um céu carregado

de nuvens epidêmicas e cinzas doentes

assim como meu eu

negro coração...

Odeio neste momento

a rotina da minha mochila pesada

Cruz... Fardo eterno endereçado

a necessitados de ilusões e descanso...

Eis o eterno corpo jovem e morfo

Sem desejos...

Inútil de retorno e vontades blasfemas

Favor abraçar-me qualquer um

que tenha sentido saudade da minha pessoa

sem manifestos hipócritas nem arrependimentos mornos...

Estou sozinho!

Assim como qualquer mármore

pesado e frio...

Pensar no livre-arbítrio me apavora...

Dói menos quando acendo um rolo de esperança

baseado na minha própria escolha momentânea!

Que as ervas do campo sejam sustento do meu prazer!

Só assim caminharei até meu delírio

e poderei culpar todas as minhas vidas passadas

meu próximo e meus próprios passos, vacilantes...

Estou a mais de três dias olhando meus pés

e um pouco mais além da minha intimidade

Um pensamento veloz passa como o veículo

que atropela a minha integridade agora!

E o próprio fogo que destrói aquece...

Lembrar o que passou é só o que me resta

E tudo cansa...

Os passos contínuos e a necessidade

de respostas sem porquês

viram abismos!

Porque chove dentro e fora do homem

e nos relâmpagos vejo a face de Deus?

Ele nunca me sorri...

Está sempre chorando o pranto

que causei em pessoas aleatoriamente amadas

Choro condenado!...

A minha agonia sustenta os grilhões!

Hoje não desejo! Hoje não sinto!

Hoje apenas desisto do tempo e de tudo!

Meu caminho não está mais aqui

e meus passos não virtuais são tímidos

A morte parece brincadeira infantil!

E a corda de um balanço estimula a vontade do fim

Ser persistente não é teimosia

Então escorrego e subo novamente debaixo da chuva!

E a corda amarra as ilusões do não sentir...

Eis a gravata de Judas! Onde morrem os traidores

É o mesmo laço onde nascem os heróis da humanidade

Trair meu eu e Deus é simples!

Eis meu pescoço e minha falta de fé!...

Alguém...

Absurda é sua idiotice!...

Pular debaixo da chuva é virar passado...

Não mais rirei no velório do injusto

nem vestirei o terno da mentira

Tudo é transitório, tudo passa!

Existe um tempo para todas as coisas

Melhor molhado e estar vivo!

Veja a cor da corda suja

e acorde do pesadelo!

Desça e olhe...

Tudo é transitório...

A chuva passou e lavou os seus pecados

Vários carros passaram...

Mas a estrada fica, a vida fica

e tudo vai continuar como antes

É só seguir em frente

caminhar e ter todas as ilusões de volta...

Orlando Miranda
Enviado por Orlando Miranda em 09/12/2006
Código do texto: T314013