O LOUCO
Em busca de aventura e glória
Partiu iludido o cavaleiro
Tentando escrever sua história
Percorreu o mundo inteiro
Nomeou como escudeiro
Um camponês ignorante
Tomou como verdadeiro
O trote mais delirante
Transformou rosas em quimeras
Mesmo quando havia espinhos
E sonhava combater feras
Onde só se viam moinhos
“Cavaleiro da triste figura”
O que buscas de verdade,
Tirar de si a amargura,
Ou do mundo a maldade?
Tentando mudar o mundo
não percebia o forasteiro
Que era só um vagabundo
Mudando a si próprio primeiro
Se venceu os seus gigantes?
Depende de como se vê
Não deixou claro Cervantes
Diga-me agora você:
Quão loucos devemos ser
para não perder a esperança
Do homem que ao combater
Não deixa de ser criança?
Quão loucos devemos ser
Para manter o amor
Do homem que ao combater
Tira do outro a dor?
Se eu pudesse, perguntaria
ao mais célebre cavaleiro
se foi de alguma valia
querer mudar o mundo inteiro,
Se vale sozinho querer
Dar conta da plantação
Semear, plantar, colher
Fazer florescer todo o chão?
O cavaleiro insensato
Por certo responderia:
Mesmo que só por um grão
muito mais louco eu seria!