SOU MESMO ASSIM...

Eu não sou diferente

Daquela plantinha

Que teima em crescer

Nas frestas da parede da igreja velha

Eu não sou diferente

Do homem sentado na via pública

Tocando violino

À espera da bondade alheia

Eu sou diferente, muito diferente

Do homem que se julga superior

Pelo saber, pelas posses

Pelo finíssimo gosto do trajar

Eu sou diferente, muito diferente

De qualquer peito com amor ausente

Daquela mão sem compaixão

Daquele pé que renega o chão que o criou

Eu sou a flor que nasce e cresce

Nos descampados, na beira das estradas

Longe da vista e do cuidado do florista

Que só tem trato para fina espécie

Eu sou do barro

Talvez,

Do mesmo barro

Onde se fez:

Cora Coralina, Manoel de Barros, Thiago de Melo e João Borges.