LOST IN TRANSLATION
eu escrevo agora para que você me complete também em versos.
e também escrevo
o inverso do amor
para conseguir prová-lo
inteiramente
eu recorto letras de revistas.
e fotografias em preto e branco de jornais passados.
procurando em algum deslize.
te mostrar os meus sinais.
eu escrevo eu te amo
do modo mais simples
com as palavras da nossa língua particular
e você nunca entende
então digo do modo mais complexo
numa língua que vou inventando
numa semântica impragmaticável
à medida que te traduzo
mas sempre me interpretas mal
sempre me perdes
na transposição dos idiomas
e então.
para todo momento em falso.
eis a minha mão.
e então.
para todas as palavras não ditas.
dou-te a minha boca.
e então.
para que você me perceba.
pinto meus olhos com a tinta da paixão.
e a toada do amor
fica sempre perfeita
recosturando retalhos do passado
para cobrir a insegurança do presente
rasgando as roupas desta noite
para esquecer o passado
para reinventar um amor melhor
um amor que nade nade nade
nesse imenso mar sem praia
no mar infinito do que podemos ser
e se me pedes em casamento
por seres a mais vanguarda das mulheres
que poucos homens ousariam ser
eu digo sim e nem precisaria
como o mais sensível dos homens
como não foram as adolescentes do século retrasado
eu digo sim como se fosse possível
sair um não ou um não sei
eu digo sim com toda a entrega
que ninguém ousaria dar
com todo o pra sempre
que só terminará um dia depois
mas que não se pode garantir
[02VIII2011]