Nestas minhas desventuras
por caminhos tantos
ora a ser poeta
a vestir-me de encantos
outras um mulambo
procurando abrigo
por escuros cantos
percebi que o canto
só é bem sincero
quando na garganta
o triste nó desata
tal qual serenata
a encantar donzelas
e que na amargura
até a doce água
é tal qual cicuta
vi que tal um rio
é também o pranto
que dá o alimento
e que na fereza
da estação da chuva
leva a flor da margem
e toda bonança
e então a seca
é tida por graça
Vi que há riso que dói
e pranto que consola
assim também a flor
que em sua triste sorte
Por vezes se faz vida
noutras faz-se a morte
e sem queixas
entrego-me ao destino
que me faz assim
por vezes menestrel
a inventar histórias
Noutras tão inábil
como frio mármore
a esperar meu fim...
Cristhina Rangel