Retrato do Meu pai.
Meu pai não é poeta
meu pai não é doutor
mas dá lição de vida
porque nisso é professor
um sujeito obstinado
Que não faz trato com a dor
E faça o tempo que for
É o primeiro que se oferece
Voluntário e ajudador
Brigão como ele só
Briga até com o tempo
E diz que não vai parar
Nem mesmo quando for pó.
De altura avantajada
E corpulento que ninguém diz
Que já passou dos oitenta
Vaidoso... Fica feliz!
Muito educado,
para falar pede a vez
E leva no bico qualquer politico
Porque é um poço de sensatez
Se com os filhos
Há algum problema a resolver
fala bem manso com voz cansada
(sábia me calo)
E no final nos faz afagos
Se quer vê-lo enraivecido
Ah! meu amigo, vou te contar
É quando mãezinha
Põe-se a falar!
Só então ele esbraveja
Mas logo a beija e volta a brincar
O meu pai que é sempre altivo
mas sensível como poucos
Sem jamais se envergonhar
tem três motivos pra chorar
As injustiças, crianças tristes
e os versos que eu vivo a declamar
Se lhe perguntam a razão
com emoção responde sem pestanejar:
_Homem que é homem tem coração,
homem que é homem sabe chorar!