Ao Sol - que venha a nós o vosso Reino!

aqui estou,

depois de descer e subir ladeiras,

depois de tantos encontros e desencontros,

aqui estou,

depois de cruzar estradas,

depois do ouro e do minério,

aqui estou de volta ao meu cerrado: aqui sou um calango!

aqui posso me estirar

nas pedras e calçadas quentes de minha terra

e tostar que nem calango embaixo do sol ardente!

ah, os raios de sol

batendo na pele da gente que nem chicote no lombo do boi.

ah, o sol, sol que tanto careço!

sol da qual dou graças e louvo

"Ó Pai Nosso que estais no céu

Santificado seja o vosso nome

Venha a nós o vosso reino!"

assim medita o calango dando graças ao sol.

e quando o sol é quente, quente de não ter mais jeito:

aí me achego a sombra

de alguma árvore prazenteira - ipês, guapuruvus, mangueiras -

e fico a ver passarinhos

sabiás, cambacicas, joões-de-barro e ben-ti-vis

passarinhos de meu cerrado -

ensinando as mais luminosas melodias

e comugando com os seres minerais e vegetais

a existência de cada flor

de cada pedra silenciosa

de cada vida sutil

o milagre da criação.

***

Alex Canuto de Melo
Enviado por Alex Canuto de Melo em 01/08/2011
Reeditado em 16/08/2011
Código do texto: T3132338
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