EU VI
Vi loucuras de amor, vi amores enlouquecidos, perdidos, marcados, feridos. Vi mulheres seduzidas, enganadas, iludidas, atraídas por amores, sofismáveis amores. Vi o tempo impondo a senilidade, mudando formas e estética, mente e vaidade. Vi doutrinas e dogmas que coibiam, enclausuravam, proibiam e reprimiam em nome de uma suposta fé. Vi a fé sem obras, morta, embasada num amor sem amor, de um Deus algoz que impõe a dor, medonho, feroz. Vi resignação no silêncio e palavras se perderem, sem efeitos, ao vento. Vi a esperança morrer de esperar, a poesia entristecer, o poeta chorar. Vi a virtude na paciência e o renascer na resiliência . Vi o machismo empanando a mórbida insegurança, infligindo domínio e dor. Vi um mundo frio, sem esperanças, em desamor. Vi um progresso sem progresso em detrimento da vida, excluindo pessoas. Vi moribundos à porta da catedral, e a liturgia falava de fraternidade. Vi homens falando de paz justiça, e igualdade social, mas eram políticos, demagogos, na ânsia pelo poder. Eu vi.