Caminhante
Joãozinho era um garoto matreiro
Cuidava das moçoilas alheias
Como quem governa as feias.
Medo ele não tinha, era ferreiro,
Filho de um bravo fazendeiro.
Menino que pegava no pesado,
Jamais foi acuado ou lesado
Por qualquer mulher safada.
Chamá-lo pra briga era uma enroscada
Muito valente, não era veado.
Certo dia resolveu viajar
Levou seu canário de estimação
Dentro do surrado alçapão.
Seus olhos eram de alucinar
À noite, seu olhar era de espantar.
Entrou no ônibus embolorado na retina.
Sentou-se ao lado de uma menina
Que trazia uma grande caixa
Amarrada com uma fita - faixa.
Atrevido, mirou os olhos da felina.
Pensou, pensou e declinou:
__ O que você tem aí na mutuca?
__ É minha gata, a velha bituca.
Sem meias palavras ironizou.
Rindo desconfiadamente, perguntou:
__ Vamos aninhá-los de braços dados?
Ela olhou para os lados...
__ Não deixa de ser uma boa iniciativa
__ Sua gata deve ser uma flor cativa,
Uma fofura de olhos arregalados.
O ônibus seguia certeiro,
Caminhava para o fim da jornada.
Ao longe o sol desmaiava no costado da invernada,
Olhos miúdos de sono tombavam no travesseiro.
Joãozinho estava alfito e faceiro.
O fim da cantilena estava por um triz
__ Sei que o nome da gata é Beatriz,
Mas não sei qual é o nome da Rosa
Esta flor tão perfumada e prosa,
Que agora se despede como uma Imperatriz.
No alto da capela o sino tocava
Anunciava o fim de mais uma batalha
Tão longa e tão atabalhoada,
Era o início do abismo que o enforcava
A despedida cruel não tardava.
Seus olhos desceram com ela, degrau por degrau
Parecia que ela deslizava na passarela do mau
A criatura era uma deusa
Uma flor de candura, que medusa!
Era mesmo o Santo Graau.