SEM SAIR DE CASA

SEM SAIR DE CASA

A desenfreada correria da criançada

Ensandecida em sua alegria despreocupada

Interferem no meu trabalho noturno

Porem sorrio e de soslaio, fumo meu cigarro taciturno.

No meu condomínio só mora maluco

São sete residências carregadas de diferenças

Do seu João que é um velho caduco

A Cilene que é a beata de todas as crenças.

Abaixo da minha casa, o bar das gargalhadas

Fala no tintinlar de mulheres embriagadas.

E às vezes o apinhar de tantas formigas

Diverte os transeuntes com inúmeras brigas.

O ronco do motor desperta a sirene da policia

Momentos depois, estridentemente chega o SAMU

Então na rua e em suas redondezas, se instala o maior rebu

E eu aguardo na manhã seguinte, o jornal com a boa noticia.

Meus visinhos gays saem na tapa por ciúmes

E enfurecem a desbocada Maria água benta.

É tanta falta de bons Costumes,...

Que pouco me importa quem se arrebenta.

Tem um cachorro filho de uma vaca

Que não para de perturbar

Alem de latir sem parar

Por onde passa deixa sua caca.

A lavanderia que há nos fundos do condomínio

Funciona a todo vapor domingos e feriados

Parece que um trem vai adentrar no meu domínio

Penso: como seria bom se eles ficassem desocupados.

Os ratos espantam os gatos esfaimados

Roem os venenos espalhados

E se fortalecem parecendo anabolizados.

Suspeito que vieram do planeta Kripton, esses excomungados.

Miguel, o boa praça, só agora descobre que é chifrudo

Provoca um quebra-quebra dentro do seu lar

Flagrou Letícia batalhão com a boca no canudo

E olha que era com os trigêmeos donos do bar.

A vizinha da casa dois aprendeu a fazer fofoca com os olhos:

Enxerga o que não vê, discrimina o que não entende

Em tudo que vê, enxerga o mal, finge entender o que não compreende.

E sem ter amigos para se confraternizar,...

Vejo lagrimas no teu olhar.

Com tristeza vejo pássaros famintos vir a nós se alimentar

Os antes silvestres, sem seu habitat nos são hoje insalubres

Se aninhando em qualquer lugar

Tornaram-se nossos hospedes ilustres.

A benzedeira e amiga sofredora

Que reza para minha alma pecadora

É a mãe que me conforta em sua humildade

E que muitos de seus filhos depreciam sua bondade.

É onde o meu linguajar desbocado,... Sossega calado

E é na força da sua fé, que admito: sou afortunado.

Nesse reduto vive também a caridade...

De uma mulher sofrida

Com seus filhos em sua casa já espremida

Acolhe a tua irmã querida

Amando teus sobrinhos como uma mãe desmedida.

No barraco da contravenção

Encontro os colegas da alegria.

Mesmo com as dificuldades da tua limitação

Arranco sorrisos do vendedor da pirataria.

Ali encontro os quietos, os anormais, os falantes, os mentirosos...

São aposentados e trabalhadores que figuram momentos ociosos.

Sem sair de casa, vejo que tenho o privilegio

De sentir o calor da diversidade humana

E constatar, o valor da sociedade puta,... E puritana

Bons ou ruins todos somos alunos desse colégio...

Sem sair de casa, também sei

Que muitos também pensam de mim

O mesmo que deles pensei.

E, se julgam que me chateei

Saibam que nessas divergências me criei.

A família que não me quer e que não me tem

... Ou eu que talvez não seja de ninguém...

Acertaremos-nos em outro além

E o que quer que eu faça

O farei

E, ainda assim,... Sem sair de casa.

CHICO DE ARRUDA.

CHICO BEZERRA
Enviado por CHICO BEZERRA em 29/07/2011
Código do texto: T3127344
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