O SUSCITAR DA ALMA
Madrugada vazia,
O vento gelado
Sacudia a cortina.
O desprezível abajur
Com sua luz esmorecida,
Feito penumbra,
Engabelava, iluminando
O cigarro apagado,
O cinzeiro molhado
Pelo pranto e a dor.
O silêncio predominava.
Eu me sentia apático.
O sopro do vento
Trazia reconfortante
Golfadas apaziguadoras.
Contemplei minha docilidade.
A calma não era aparente.
Algo dentro de mim
Parecia pressentir
A benéfica chegada
De dias vindouros.
Permaneci estático,
Cauteloso quanto
Ao imprevisível amanhecer,
Pois, era sabedor
Que nem sempre a calma
Era mensageira
De fluidos positivos.
Não estava habituado
A enxergar com plenitude
O sinal do clarão da vida
Visível a outras almas.
Pensava que naquele dia
Conseguiria suscitar
Algum reflexo positivo
No difuso espelho da vida.
Reparei sem visualizar
Que invisíveis mãos
Providenciavam a soltura
De minhas amarras
E abriam meus lábios
No ensaio de um sorriso.
Elevado, observei quando
Minha avantajada massa,
Num inédito frenesi,
Convidou-me solícito
Para o primeiro beijo.
Lampejos coloridos
Felicitaram o contato.
Faíscas inundaram,
Afugentando feito açoite,
Negativas almas negras.
Senti o brilho prazeroso
Se intensificar em abundância.
Dei-me a um longo abraço.
A mais perfeita sincronia
Entre alma e matéria.