O TRISTE CANTO DO ROUXINOL
Outrora bem mais feliz eu era
Cantava nas manhãs tão bela
Todas as estações pareciam primavera
Para lhe alegrar cantava em sua janela
Mais no passar do tempo a vida foi ingrata
Quase só restei eu de tanta passarada
Você maldoso homem acabou com a mata
Agora me afogo com receio entre as queimadas
Cadê o verde ao meu cantar com liberdade
O exalante cheiro do verde em puro ar
Aqui um dia foi sertão agora é cidade
Dentro da gaiola não há motivo para cantar
De um rouxinol feliz agora apenas recordação
Outros pássaros se afugentaram a outras bandas
Hoje vivo só a lamentar a solidão
Aquele coral silvestre não sei para onde anda
Entre as cinzas há pedaços de meus descendentes
O homem é inteligente e age com maldade
Matou quantos pássaros inocentes
Só resta agora lamentar a realidade
Há um nó atravessado na garganta
Meu olhar triste há esperar uma nova estação
A melodia da tristeza meu coração canta
Homens malfeitores nem parece ter coração
Não dizem encontrar refúgio e sossego
Quando estão contemplando a natureza
Com receio é que eu me achego
Sou o rouxinol uma parte desta beleza