[A Palavra que te Busca]

[Eu sou um ingênuo, sabe?]

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Às vezes, tenho uma vontade estranha:

eu queria, por meio de algum sortilégio,

fundir-me nesse meu dizer e sair por aí,

pulsando na pura vibração de minhas palavras,

a dobrar esquinas, descer ladeiras,

até chegar àquela janela forrada de renda branca.

Nesse instante, eu seria um modo de pura palavra,

que se desvela... que confessa... ama e deseja!

Aonde não pode ir o meu corpo, iria

o meu eu-palavra transmutado na presentificação

de um íncubo que te toma e te possui: a forma fálica,

quente, úmida; a lúbrica forma quase confessável

que visita — eu tenho certeza!— os teus sonhos.

O meu eu-viajante noturno seria a engendração misteriosa

que te faria sentir na maciez perfumada do teu colo

que me alucina, o toque da minha língua sequiosa!

Ah! Pudesse esse meu eu-viajante recolher e trazer-me

o almíscar que trescala a tua boca que me sugou o falo

enquanto a minha língua percorria a tua greta úmida!

Ah... essa palavra... essa tensa palavra-eu que te busca!

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Revisitação da minha coletânea "Cavalos da Noite", ilustrada por Paula Baggio

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 27/07/2011
Reeditado em 27/07/2011
Código do texto: T3122295
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