Erva daninha
E agora que fazer
Se por mais que me esforce não consigo dizer
Isto que todo mundo diz
Isto de que sou simples aprendiz
Como dizer que amo sem me perverter
Como e como
Se todos vivem a dizer
Cansado elástico
Eu te amo desamo torno a amar
Como dizer e me fazer acreditar
Todos dizem a bel prazer
Cresce nos prados tal erva daninha
Nuvem de gafanhotos
Do aedes aegypti as larvinhas
Essa afirmação implausível, ilógica, ininteligível
Como dizer eu te amo e me fazer acreditar
Se a todo instante se diz
Mais que tem grãos de areia o mar
Então é preferível não amar
Pior ainda me apaixonar
Pois como vento traiçoeiro, a paixão quebra do coração a taça
Anuncia desgraça
É coisa que destrói a traça
Então não te amo
Nem apaixonada sou
E não sei mesmo o que faço
Com esta palavra
Amor
***
Integra esta página a intensidade do poema de CONCEIÇÃO GOMES:
Pois eu quebrei muitas taças
E quando perdi o medo de amar
Aprendi tambem a desamar
Cortei ervas daninhas, sangrei as mãos
Mas não renunciei ao doce tormento
De entregar-me a paixão, ainda que um momento apenas
A paixão de amar o amor.