A batalha do dia

Trancada, me escondo da vergonha que insisto em sentir.

Apago as luzes e procuro manter-me afastada de mim.

Meus sonhos, frustrados, me assombram sem cessar.

E um coração partido é quem eu tenho para me consolar.

Não choro dores de um amor perdido, pois desconheço o que é isso.

Não choro grandes planos desfeitos, pois há muito os deixei de planejar.

Não choro por motivos banais nem por doenças que por acaso tenham me alcançado. Não!

Choro sem saber o motivo, choro de medo de mim, choro por coisas que nem eu mesma sei.

Choro.

Inundo o travesseiro e me lanço na escuridão da madrugada.

Choro.

Soluço.

Choro ainda mais.

As estrelas no céu não podem ajudar-me.

Choro em silêncio para niguém escutar.

E fico sozinha, imóvel, quieta, chorando para ninguém ouvir.

Das minhas vergonhas já basta o meu próprio conhecimento, não quero olhares de pena nem mãos que ofereçam ajuda.

Até que as lágrimas sequem e o sono me arrebate vou lutando comigo no escuro, o meu "ser" contra o meu "dever ser".

Uma luta sangrenta e violenta. Ambos são ágeis, todavia o meu ser ideal sempre ganha de lavada do meu ser atual.

Assim, no fim da madrugada, quando já não tenho mais forças para aguentar, me rendo. Não posso vencer!

Durmo um sono reparador para no próximo dia encontrar-me novamente com o meu malfeitor, certa da derrota vindoura.

E até que as lágrimas rolem e a batalha seja travada novamente, vestirei, como em todos os dias, a minha idolatrada máscara, para encarar a vida distante da solidão do meu campo de batalha.