Atravessada

Sempre que lhe dou

as costas

o passado me atravessa

feito saudade

feito navalha

quente que corta

a carne sem sangrar

meu corpo

inteiro é

ferida aberta

a doer, a alma

(incerta) a congelar

e ja não sinto as pernas

e já nem tenho os braços

e já

nem sou

e já nem sei

de onde vieste?

mas sei que aqui estás

cravado neste agora

que não tarda a findar

fundido num tempo sempre

mais longo que as badaladas

podem cantar, mais lento

que sabe ele contar

o ponteiro, o pequeno

se eu tivesse olhos

nas costas estaria deles cega.