DeSCoNVeRSaNDo a CoNVeRSa

__ Se te imploro, me ajuda!

__ Não posso. Eu também te peço.

__ Então deste medo nosso,

começa pelo começo.

__ Não tenho o endereço, não posso,

sem ter chave, sem segredo,

abrir nosso cofre de medos.

Enrolas em dor tão aguda

não tem ponta, este novelo.

__ Se assim dizes, ajudas!

Enquanto moves, desvenda

da dor, a topografia,

eu faço uma poesia

em teus desmandos, me velo.

__ Tua poesia me engana,

pior, ela engana a ti.

__ Então, via anatomia

vá à cata da alegria

do coração e suas lendas.

__ Não posso, meu dizer é nosso

teus versos, são de ninguém,

mentindo aqui e ali.

Teu suplício é um rosário

de dor e a dor é mentirosa.

__ Eu tenho um breviário

e nele guardo uma rosa

murcha, de inteira verdade,

de não vivida saudade.

__Saudade morta é mentira!

Fui eu quem errou a mira

dedilhando prece em prosa,

jurando fora de hora,

te crendo, te dando a rosa

Rosas em nicho de dor,

não dão espaço pro amor.

Melhor calarmos, por ora...

__Estamos até o pescoço

nesta areia movediça.

A ilusão caiu no fosso

o fogo, não mais se atiça.

Olha, não briga comigo.

Estou sendo esvaziada

por dentro, pela serpente

que me suga no batismo,

com o nome de doente.

A vida me pôs de castigo

num sempre olhar o poente.

---Nesta incrível paisagem

início da nossa viagem

nesta saga de mentiras,

quem de nós é o que retira

a pedra das nossas sandálias,

em nova trilha sem falhas?

__Desculpa-me, não consigo!

Nem sei mais se estou comigo.

Castigada em tempo curto

não sei se canto ou se surto.

Eu tenho uma amiga de infância,

conhecida dia desses.

Diante das circunstâncias

ela enxugou meu texto

retirou erres e esses,

deixou o necessário resto

e o respeito aos meus erros

Me disse, de mim do-ente

do exílio, ex-ilha, desterro

Não é que fiquei contente,

neste me haver comigo

com tempo só pro antigo,

no desmanche do presente...

...?...