Verde 33

O que sai pela tua boca,

o que vai pela tua mente,

e se entremeia em seus cabelos escuros,

me faz para e pensar:

"Quanto de mim ainda reside nessa vida,

e quanto de você é o monstro que eu criei?"

Isso porque antes, muito antes de pensar,

muito antes de sequer admitir ter pena,

permitia que houvesse tempestades e bocejos.

Mas hoje, não restou um só momento de aflição,

nem um momento de insegurança,

e tudo é tão previsível,

que não chega a causar espanto,

essa quantidade de espinhos cravados nos pés.

Por onde andar?

Por onde começar a temer o futuro?

Mas só estou morto.

E morto que estou, sendo minha parasita dileta,

morta também estás.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 06/12/2006
Código do texto: T311263