Encantamentos

Encantam-me as palavras, o envolvimento das letras ladeando

os sentimentos.

Encantam-me a fúria e a sutileza que um emaranhado de

garatujas ordenadas são capazes de provocar.

Encanta-me o poder das palavras, que causam destruição ou

glória, decepção ou alegria, anunciam vida ou morte!

Palavras! Encantam-me. Assustam-me. Provocam-me.

Encanta-me a vida que nasce a partir das palavras, a forma

com que a magia emerge do nada, que a lágrima renasce da

escuridão, que a brasa ressuscita da destruição, que o vácuo se

desprende da solidão.

Encantam-me os poetas, cujas palavras lhe são prisioneiras,

escravas! Poetas que jogam os versos ao vento, esperando que as almas os acolham, os decifrem, os interpretem.

Poetas que enterram significados estáticos e que recriam sentidos

multicoloridos para o mundo.

Poetas que sofrem com a perda da própria identidade, que

vivem atrás de perguntas sem respostas e respostas sem justificativas.

Encantam-me os poetas! Senhores Absolutos dos sentimentos.

Colecionadores de sonhos. Irrecuperáveis viciados em palavras.

Encantam-me os poetas anônimos, que se escondem atrás de

profissões tediosas, que encontram nos versos um sentido para a vida,

um refúgio para alma, um alento, um alívio!

Encantam-me os poetas que brincam com o destino, que não

se entregam à monotonia dos dias, que são capazes de recriar a

própria história.

Encantam-me os poetas que conseguem recontar em prosa, as lutas, as injustiças e a saga de um homem comum, confessas nas tímidas entrelinhas do seu cotidiano, nas estrofes modestas da sua labuta incansável.

Encantam-me os poetas que direcionam suas palavras à uma

crítica ou à uma declaração de amor, que provocam calafrios, ou

ondas de calor. Que “rabiscam”a vida e “roubam” histórias, sejam

elas de romance ou de terror...