Recluso

Passa por mim a voz do esquecimento

um fingimento produzindo outro clarim,

leio um pasquim sem teor algum,

um documento que não se pode confiar.

Minhas lembranças são tristonhas e ruins

hoje nem sei o que faço nesse mundo.

Um vagabundo sem nenhuma identidade,

minha verdade é pior que um olho vesgo.

Só vejo por aqui um descontentamento,

meu eu reclama do contraste desse engodo,

cada minuto novo astuto faz a festa,

e o que me resta será sempre o isolamento.

Nessa partilha já não sobra nem vintém,

tanto porém que ninguém quer assumir,

se só me resta essa fala sem plateia,

melhor calar e aceitar meu eu recluso.

Marçal Filho
Enviado por Marçal Filho em 20/07/2011
Reeditado em 25/07/2015
Código do texto: T3108015
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